Perdão sem igual

Perdoaste a culpa do teu povo e cobriste todos os seus pecados. (Sl 85.2.)

O salmista faz questão de separar uma manifestação da graça de Deus da outra: "perdoaste a culpa do teu povo" e "cobriste todos os seus pecados" (Sl 85.2). Os dois atos de Deus são muito próximos. O segundo é uma extensão do primeiro. É formidável que ele faça a distinção e mencione ambas. Atualmente, diríamos que o salmista demonstra possuir cultura teológica.

O perdão de pecados significa que a ira, o aborrecimento e a revolta de Deus foram aplacados. É isso que está escrito no verso seguinte: "Retiraste todo o teu furor e te afastaste da tua ira tremenda" (Sl 85.3).

Mas esse perdão é sem igual, absolutamente perfeito, porque cobre todos os pecados perdoados. Para se ter uma ideia mais precisa dessa manifestação complementar da graça de Deus, é bom consultar outras versões. Enquanto na NVI lemos "cobriste todos os seus pecados", na Bíblia Hebraica está escrito "apagaste", e na Tradução da CNBB, "cancelaste". A NTLH tenta ser mais compreensível (se necessário fosse): "Não olhaste para as suas maldades". Outras versões usam o verbo encobrir, que quer dizer não permitir que seja visto (esconder, ocultar). Já que cobrir quer dizer ocultar pondo alguma coisa em cima, diante ou em redor, parece que esse verbo diz mais do que o outro (encobrir). Numa linguagem soteriológica, diríamos que nossos pecados perdoados foram cobertos pelo sangue de Cristo - desapareceram, evaporaram da presença e da memória de Deus.

Para transmitir a ideia de que o pecado perdoado desaparece do mapa, pelo menos aos olhos de Deus, é necessário reler a passagem que diz: "Ele novamente terá compaixão de nós, suprimirá nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados às profundezas do mar" (Mq 7.19, BH).

>> Retirado de Refeições Diárias com o Sabor dos Salmos. Editora Ultimato.